Apesar de eu defini-lo como infantil/infanto-juvenil, eu mesmo ao ler curti a história. Um dos propósitos da divulgação aqui é sobre as críticas. Disponho aqui as primeiras páginas do livro. Para mais informações, a venda do livro está disponível nesse link (http://clubedeautores.com.br/book/27194--Um_Amor_de_Circo). Apenas é necessário o cadastramento no site

CAPÍTULO I
A apresentação difícil
Em um cirquinho, pequeno pela fama que tinha. Fama essa que cresceu muito depois dessa história. Tinha o que todo circo antigo tem que ter: trapezista, mágico, domador, claro o palhaço e outros. Esse cirquinho viajava pelo país inteiro, numa caravana de caminhõezinhos, “os latão” como eles chamavam. Quase sempre se apresentavam no interior do país.
Eles haviam chego numa cidade, uma cidade grande do litoral e naquela mesma noite seria a estréia. O público foi difícil, não se rendiam facilmente ao espetáculo. O Contorcionista quase foi vaiado, a apresentação parecia definhar, “tá tudo perdido” dizia o Dono do circo atrás da cortina, “vou ter que devolver todo dinheiro” ouvia o Palhaço de seu camarim improvisado com cortina. Ali dentro tinha um espelho de seu tamanho, dois malões do tamanho de armários e uma maleta pequena, num dos malões haviam vestes e maquiagem, no outro parafernálias pra palhaçada. Como todo bom palhaço esse adorava o que fazia, e fazia bem. Aquela noite, e isso era muito raro, ele estava nervoso com a apresentação, ele era o próximo a enfrentar o público dificultoso. Quando ele saiu pronto, maquiado, de cartola surrada, e maleta com “artigos de palhaço”, calças largas e curtas e camisa listrada o Dono veio até ele:
- Mudança de planos, a Bailarina vai antes de você, certo!
- Sim senhor!
O Palhaço nem pensou em recusar. Dito isso o Dono entrou no picadeiro, enquanto o Contorcionista saia, descorçoado e desanimado. Enquanto o Contorcionista era aparado pelos amigos, o Dono foi logo dizendo acima de qualquer voz:
- Carríssimaicissima, platéia agoraaaaaaaaa tenho o prrrrazer de trazer-lhes uma jóia rara da bela arte, a bela, Bailarina!
As luzes se apagaram, como que num apagão, puf! Quando a primeira família ia levantar para ir embora, uma luz azul caiu no meio do escuro picadeiro como chuva, deixando a platéia na penumbra. No centro estava a Bailarina, de olhos fechados, de pele clara, estava com um vestido branco leve que ia até os joelhos, agora azulado com a luz. O cabelo liso preso por uma fita.
Quando a platéia vislumbrou a beleza da Bailarina na chuva azul o silêncio lhes abateu tão intensamente que me é indescritível. Primeiro um acordeão começou em uma nota longa, atrás veio os acordes nítidos de um violão, uma flauta, e uma espécie de bumbo de pelego macio que marcava a música com um tom grave e melancólico.
A Bailarina fez uma reverência ao público e outra aos músicos. Ela ergueu os braços em arco, começou muito leve a dançar com a música. Ora rodopiava, ora saltava e seu vestido esvoaçante ia e vinha com a música, seus olhos cintilavam na luz azul, na face pálida estava um singelo sorriso. A música cresceu no lugar e começou a ficar mais rápida e tempestuosa, a bailarina dançava espetacularmente, ela acelerou os corações do público.
Atrás da cortina estava o Palhaço olhando extasiado e como que sonhando. Parece que ele havia esquecido ou nunca percebido a beleza da bailarina e sua dança, já que quando ela dançava, ele estava no “camarim cortina” tirando maquiagem e colocando gelo nos machucados dos tombos e depois ia trabalhar como vendedor de doces fora da tenda. A música muito agitada, parecia ser agressiva e a luz piscava deixando ver apenas “quadros estáticos” da Bailarina. Ela estava no controle, regia corpo, música e platéia. A luz ascendeu de repente, terminando com uma única nota longa do acordeão, como começara, a Bailarina no centro do picadeiro com as mãos para trás encarando a platéia. Demorou um pouco para o público “digerir” aquilo e explodir em aplausos, muitos levantavam. A Bailarina reverenciou os aplausos e aplaudiu a banda, virou-se e voltou ao seu camarim ofegante e feliz.
Quando passou pelo palhaço ouviu “Belíssima apresentação”, ela retribuiu com um olhar singelo e um largo sorriso de agradecimento. O Dono beijou a testa da bailarina e passou pelo Palhaço feliz da vida dizendo “Você é o próximo”. Quando entrou foi recebido por mais alguns aplausos e anunciou o Palhaço, este se concentrou em “risadas e palhaçadas, palhaçadas e risadas” e entrou no picadeiro com cambalhotas. De fora da tenda podia se ouvir a onda de risos e gargalhadas. Ele até chamou uma criança no picadeiro e ele ficou fazendo palhaçada, a criança jogou água nele e sua apresentação se seguiu bem.
Naquela noite depois do último número e o espetáculo terminar, os artistas comemoravam na tenda, pois havia sido superado o problema e a platéia se encantou com o circo. No meio da festa, que era ao mesmo tempo janta, com mesas grandes colocadas no meio do tablado do picadeiro, o Dono levantou sua taça e disse a todos que silenciaram no mesmo instante:
- Hoje ergo um brinde à Bailarina, que salvou-nos a noite. Um Brinde meus amigos aos esforços de todos, especialmente os dela!!
Todos se levantaram e brindaram, muitos cumprimentaram a Bailarina pelo ótimo trabalho. No fim do jantar, quando a louça já estava sendo lavada pela equipe da louça da vez, o Dono meio tonto disse que a ordem do espetáculo ficaria daquele modo na próxima apresentação. Na noite seguinte, que era da apresentação, a esfarrapada tenda vermelha amarela do circo estava cheia, muitos assistiam em pé e faltou ingresso por causa do espaço. Muitos da cidade, pareciam não ter contato tão direto com a arte, não a sentiam em suas vidas agitadas e rotineiras. Mas ali no circo, experimentaram desse mel e se encantaram, pais levavam filhos, filhos levavam seus pais. A maioria esperando a muito comentada bailarina, mas souberam apreciar todo o espetáculo. Quando chegou a vez dela, quando as luzes se apagaram, o ar parecia parado. Ninguém falava ou ousava respirar profundamente. Lá estava ela, no meio do palco sob a chuva azul, a música era diferente, mas de igual beleza. Dessa vez, o acordeão e a flauta começaram juntos, calmos como antes, com a Bailarina em perfeita harmonia. Parecia que as músicas e passos dela eram improvisados, quando o violão e o bumbo leguero entraram na música, como trovão, ela seguiu rodopiando no picadeiro, correndo. E lá estava o palhaço assistindo tudo de trás da cortina, por uma fresta no pano rouxo escuro. A Bailarina quase que encenava, sua expressão mudava, por vezes terror ou susto, a banda e ela pareciam ter se superado, a música parou de repente como um baque, e a Bailarina no centro. Os aplausos vieram mais rápidos que os da noite anterior, e novamente muitos aplaudiam de pé. A Bailarina saia em quanto o faceiro Dono entrava no picadeiro e anunciava o Palhaço. Quando ela passou por ele, ela disse, feliz da vida:
- Estão prontos para você!
O coração do Palhaço que já estava ligeiro, batendo no peito, foi à loucura, e debaixo da maquiagem o Palhaço sentiu seu rosto corar. Parece que ela havia preparado o público para ele. E preparou bem, quando ele entrou já fez que havia tropeçado num banquinho usado por ele mesmo no seu número, e ele segurou o sapato exageradamente comprido com uma face de dor risonha que fez o público cair na risada. Ele com uma voz chorosa, disse:
- Tão rindo é, vão ver!
Pegou um balde, perto da cortina, puxou uma mangueira e abriu, quem via achava que ele estava enchendo o balde fosco. Mas a água caia atrás, num furo no chão. Ele pegou o balde, esforçando-se como se estivesse cheio, e muito convincentemente jogou numa parte do público cheia de adultos, alguns dos quais de terno. Estes foram “molhados” por uma chuva de papel picado, depois do grito de susto deles todos riram até o palhaço ria apertando o nariz vermelho que fazia um sonzinho assobiado. Não havia chego na metade do número e muitos choravam de rir com as palhaçadas. Por último, com um jovem homem engravatado, tirado da platéia, o palhaço havia feito ele se vestir de palhaço e dado um chapéu e um nariz vermelho, ele deu uma flor enorme para o engravatado, era um girassol enorme e disse que era para ele dar para namorada. O Engravatado foi em direção à cadeira vazia, que antes ele ocupava, ao lado havia uma mulher de cabelos loiros com um vestido florido em tons de rosa com fundo branco. O homem, muito romanticamente, ajoelha-se em frente da namorada, que estava rosa feito o vestido, uma timidez por todos olharem para eles ali, o Engravatado não estava nem aí para o público ou o palhaço, se ajoelhou entregou a flor e junto uma caixinha, a mulher pegou ambos, flor e caixa e com as mãos tremulas abriu a caixinha que tinha um anel dentro, uma aliança. O jovem, em seguida, disse em um tom que escondia o nervosismo, e todos escutaram um “quer casar comigo”. A mulher, com olhos mareados de lágrimas, viu nas costas do seu amor o Palhaço com sorriso estendido e engraçadamente curvado para frente esperando a resposta, a mulher olhou de novo seu amor e disse:
- Você planejou tudo isso!
- Não muito bem! Disse o rapaz. Eu ia pedir quando te levasse em casa, mas o palhaço deu a idéia quando fui comprar doces, era ele quem vendia!
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