sábado, 7 de agosto de 2010

ContФnuado 1


Aconteceu em uma fria cidade litorânea no sul do mundo. Num píer de madeira, já um pouco gasto pelo tempo e a água. Por gasto quero dizer quase podre, no entanto um lugar onde turistas ainda iam para ver o sal do mar encontrar as águas de um rio. Lá também encontravam-se jovens, e dois mendigos que sempre estavam por ali. Foi com esses dois mendigos que aconteceu o que contarei.

No fim daquela tarde os turistas já iam embora, pois o frio era de atazanar, porém um velho homem rico, que sempre passava pelo píer para lembra de sua amada, permanecia no píer sem ver os outros irem embora ou sentir o frio que os outros sentiam. Os dois mendigos ainda estavam por ali, sentados nas madeiras pregadas muito afastadas uma das outras, encolhidos com as mãos erguidas e esfomeados. O velho ao passar por eles jogou um punhado de moedas, passou tão distraído que não viu metade do que jogara cair entre os vãos e afundar nas águas barrentas e revoltas. No que o homem jogou os mendigos se atiraram no chão do píer, as catas das moedas que restavam. Porém quanto mais brigavam e se empurravam mais as moedas caíam. Uma moeda de um valor maior rolou ao longo de uma tábua, e os dois a seguiram, ambos começaram a ficar ofegantes pela briga. Quando um pegou o outro pego também e o metal cintilou para cima, com um raio de sou que atravessou as nuvens espessas, ao cair para fora do píer o mendigo caiu junto, atrás do pão que compraria. O mendigo caiu nas águas geladas do inverno. Não sabia nadar nem nada, suas roupas eram pesadas, e em pânico se debatia. O outro mendigo piscou e se deu conta de que o homem estava afundando para morte, chamou por ajuda mas justo naquele momento a única figura que se via era do velho ao longe na rua, lembrando distraído. Aos olhos de qualquer um não se saberia se ele fora empurrado, se simplesmente caiu ou se jogou. Porém nada muda o fato de ele ter morrido. Ora o outro mendigo também não pulou, pois sabia menos ainda nadar do que aquele que na água pereceu. Após o corpo ser retirado da água e tudo mais, apenas um mendigo ficou no píer, e este ao olhar para o chão viu que nenhum moeda restara, todas haviam caído. E pensou, “eu e ele estávamos com fome... agora apenas eu estou com fome”.

(Imagem, fonte: http://opatifundio.com/site/?p=441 , autor João Pinheiro)

2 comentários:

  1. vinicius medeiro
    cara gostei do ContФnuado 1 e 2 forma breve de escrever e prednde a atenção
    e a imagem me lembra um poema que fiz não é tão bom mais lá vai:

    O Mendigo
    Estarei aqui, neste canto,
    Onde posso olhar sem ser visto,
    Onde posso chorar sem ser ouvido,
    Estarei aqui, onde muitos estão,
    No chão.

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  2. "quem tudo quer nada tem"...

    apesar de parecer uma afirmação invejosa, "anti-ambiciosa" e talvez pessimista, às vezes é verdadeira... às vezes...


    Parabéns pelas produções Camilo!

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